segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Da bunda quadrada ao salário redondo: a maratona de um concurseiro


"Sim senhor", "não senhor", "pois não, senhora". Esta era minha rotina em 1994. Recém-saído de um estágio na Caixa Econômica, havia visto como era bom ser um funcionário público: muito trabalho, mas uma maior flexibilidade nos horários, a certeza do dinheiro em caixa no início do mês e salários acima da média de mercado. Mas eu precisava sobreviver, ganhar mais, e o salário de estagiário não me deixava sonhar, então fui para o mercado privado e me tornei operador de telemarketing vendendo contas correntes por telefone. Caros alunos, eita serviço complicado... a quantidade de vezes que fui xingado, que bateram com o telefone na minha cara não foi brincadeira; até um ator global teve esse privilégio. Eu tinha que mudar de vida!

No início do ano, quando estava saindo do estágio, o Governo do Estado anunciou concurso público para o privatizado BANERJ (para os mais novos, Banco do Estado do Rio de Janeiro, comprado pelo Itaú). Oba, é a minha chance, pensei. Corri num dos diversos cursos preparatórios do Rio de Janeiro e fiz minha inscrição.

Trabalhava diariamente de 8h às 14h, mas o serviço era absolutamente estressante. Definitivamente, vender conta corrente por telefone não é para qualquer um. Mas, o que me animava é que após este horário eu conseguia almoçar e seguir para o curso, onde ficava numa sala vazia estudando até as aulas começarem. Era puxado? muito, pois ía dormir por volta de meia noite e seis e meia estava de pé para mais um dia puxado de trabalho e aulas diariamente. Como o concurso estava em vias de sair, era aula até no sábado, o dia inteiro. Me desculpem, mas minha bunda estava ficando quadrada de tanto ficar sentado.

Naquela época, os mais velhos lembrarão, os governos estavam privatizando diversas instituições e o Banerj, para o qual eu me preparava com afinco, estava na berlinda. Preocupava-me estar me preparando e de repente isso não dar em nada. A vontade de descansar, de sair para meu choppinho era forte, mas eu tinha um objetivo: um bom salário e estabilidade no emprego.

No final de março de 94 a Petrobras Distribuidora, empresa do Sistema Petrobras, anunciou um de seus maiores concursos públicos, com vagas para todas as áreas possíveis. As matérias eram semelhantes ao que eu já estava fazendo no meu curso e valia a pena arriscar. Ao chegar para me inscrever - como todo brasileiro, em cima da hora - me deparei com uma fila que dava duas voltas num dos quarteirões da Candelária, no Centro do Rio. O primeiro pensamento era o do desânimo, mas, "quem está no fogo é para se queimar" e lá fui eu enfrentar aquela bizarra fila para fazer a inscrição. Consegui!

Quando saiu a relação candidato-vaga, novo desânimo: 163.000 candidatos para 60 vagas: 2716 candidatos para uma vaga... "Caramba, eu não vou passar!", confesso que este foi o primeiro pensamento que passou na minha cabeça. Mas, a inscrição estava feita e eu não perderia nada indo lá testar meus conhecimentos. Modéstia à parte, eu estava preparado mas achava que era gente demais e que não conseguiria, pois ainda não havia completado o curso que eu vinha fazendo.

Prova marcada! caramba, mas precisava marcar para o Dia das Mães? a família na casa da minha tia e eu a cerca de 30km dali, numa faculdade do subúrbio do Rio de Janeiro, fazendo prova. Pra completar, aqueles dias no meio do outono que parecem com o verão. Tava quente!

A prova? inicialmente tomei um susto, pois parecia fácil. Eu havia estudado muito, mas a prova parecia simples demais. Saí de lá e fui para a casa da minha tia ver minha mãe e relaxar um pouco. Cervejinha na mão e meu pai pergunta: "e aí, como foi a prova?" fui enfático: só passará quem gabaritar, porque estava simples. Dois dias depois, uma 3a feira, sai o gabarito e lá vinha eu conferindo e comemorando, pois caminhava para gabaritar a prova, mas não é que errei a última questão, uma das muitas pegadinhas que sempre caem e que o curso preparatório te mostra antes que aconteça. Ah, mas bateu uma raiva danada...

Uns quinze dias depois sairia a lista dos aprovados. Ainda tinha alguma esperança, mas esta era tão pequenina que eu já me via vendendo contas correntes por mais algum tempo. Comprei o jornal desanimado e comecei a lista de baixo para cima, como todos os céticos. Amigos concurseiros, qual não foi a minha felicidade em ver que apenas dez pessoas gabaritaram a prova e que eu, com meu erro que valia quatro pontos, estava classificado em quarto lugar! pulos e pulos de alegria, comemoração na família, eu havia passado para uma das maiores estatais do Brasil. Em janeiro do ano seguinte fui chamado.

Pensam que acabou? apesar de ter entrado, o salário ainda não era aquele que eu sonhava, mas adorava, como adoro até hoje, a empresa. Em 1997 surge um novo concurso público e para uma área que pagava melhor, que me fazia trabalhar em algo onde eu me sentiria mais útil ainda. Só que, entre um concurso e outro, eu casara e estava com um filho prestes a fazer um ano. A rotina de trabalho era puxada, pois meu horário era fixo, na fábrica de lubrificantes da empresa, distante 40km da minha residência. A empresa dava o conforto de um ônibus para os funcionários irem e voltarem para suas casas, mas era cansativo pegá-lo às 5:40 da matina e trabalhar até 16h, chegando em casa lá pelas 17:30. O tempo que sobrava era completado para cuidar do filho, dar atenção à esposa, enfim, tarefas de um pai e de um marido. Tempo para estudar? muito escasso.

Mas, como eu disse, o salário melhorava bastante e eu precisava disso para poder melhorar meu padrão e o de minha família. Meu pequeno, hoje um molecão de 15 anos, requeria do bom e do melhor e, para isso, lá estava eu novamente ralando, desta vez por conta própria, mas com a ajuda de um cursinho preparatório de português.

A relação candidato-vaga era menor, 45 por um, mas não havia garantia de que fossemos chamados, então a classificação tinha que ser a melhor possível. Era cursinho à noite e estudo dentro do ônibus indo para o trabalho e voltando dele (meu sagrado cochilo diário acabava de ir para o brejo); os finais de semana, dedicados ao ócio e a cuidar do filho pequeno, foram substituídos por livros, livros e livros. Faltavam cerca de dois meses para a prova, que seria quinze dias depois do meu aniversário, no final de outubro.

Na última semana antes da prova, consegui uma negociação com minha gerente: alterei uma semana das minhas férias para poder ficar em casa e estudar. Excelente medida, mas como estudar numa casa com um filho de um ano de idade que requer toda sua atenção? pois salvou-me a babá, que ficava com ele o dia todo enquanto eu descia para o playground do prédio às sete da manhã, subia para almoçar, descia novamente e somente subia às 22h, quando apagavam-se as luzes. Desnecessário dizer que eu parecia um zumbi e que o filho, óbvio, sentiu a falta naquela semana.

Dia da prova e, desta vez, a danada vem muito mais difícil que se podia imaginar. Caramba, mas o cidadão, mesmo preparado, tinha dificuldade para encontrar a resposta correta naquele emaranhado de opções. Mais uma vez, eu estava preparado, mas a situação estava mais complicada. Novamente meio cabreiro, terminei e levei a respostas para casa, esperando o gabarito no dia seguinte.

Décimo-sétimo lugar!!! nossa, a comemoração foi dobrada! a vida daria um salto de qualidade, e deu! estou na Petrobras Distribuidora há praticamente 17 anos, estabilizado, com um excelente plano de saúde, com alguns benefícios importantes, como aposentadoria privada através da Petros, Participação nos Lucros e Resultados, Férias de 100% e o sagrado salário mensalmente no primeiro dia útil e um adiantamento no dia 20.

Amigos, diz o ditado que "conselho se fosse bom a gente não dava, vendia", mas acho que este vale para cada um dos que leem esse texto agora. Estudem! mas estudem muito! fazer concurso público qualquer um pode fazer, mas passar num concurso será uma alegria para poucos, justamente aqueles que conseguirem, mesmo com todas as dificuldades que a vida nos faz enfrentar diariamente, dedicar-se ao máximo. Suspendam, temporariamente, o chopinho, os papos de internet, as saídas com os amigos (eu garanto, eles entenderão). Aqui na Intera Cursos vocês terão todas as condições de conseguir isso, com a orientação da Aline e o carinho e a nossa mais calorosa e vibrante torcida para que todos atinjam seus objetivos e, daqui a algum tempo, venham nos visitar e deixar seus relatos vitoriosos.

Nós da Intera acreditamos em vocês e estamos aqui para ajudá-los. Queremos vê-los de "bunda quadrada" agora e com o cargo sonhado na mão logo ali adiante.

Um grande abraço,

Flávio Tavares Siciliano
Sócio - Intera Cursos Teresópolis

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